João Carlos Rodrigues
Entrevista realizada em Outubro de 2021 gentilmente cedida pelo Grupo Somos Nós de Adamantina do FacebooK.
1) Você nasceu e sempre morou em Adamantina ou já morou em outras cidades?
R - Nasci em Adamantina no dia 04 de outubro de 1951, em 1971-1972 trabalhei em Maringá-PR, 1973 Bauru e em 1974-1975 em Dracena, retornando definitivamente para Adamantina.
2) Quais são suas melhores lembranças da infância em Adamantina?
R - Época de Natal, ganhar um carrinho de plástico ou uma bola de futebol de borracha e poder tomar uma garrafa de guaraná sem precisar repartir.
3) Quais eram as brincadeiras da sua turma quando eram moleques?
R - Depois da escola, jogar bola, burica, empinar papagaio (pipa), caçar com o estilingue e nadar nos córregos escondido dos pais.
4) E na juventude em nossa cidade, do que mais você se lembra?
R - De quando consegui comprar uma bicicleta seminova, quando jogava futebol no “cascudo” do Operário da Vila Jardim, ir em turma nadar no Córrego Burrinho de bicicleta e a noite antes de ir para casa ficar em rodinha contando piadas, casos, histórias de assombração e ir para casa com medo.
5) De onde veio essa sua paixão pela história de Adamantina?
R - Sempre tive interesse pela história de Adamantina, sempre que via uma foto histórica já me chamava a atenção. Pela facilidade em pesquisar, pois trabalhei no IBGE pesquisando muito, por gostar muito desta cidade e notar que a história adamantinense tinha muitos detalhes importantes, interessantes e que deveriam serem mais divulgados, para os que vivenciaram poderem relembrar o passado e para os jovens a oportunidade de conhecerem a história.
6) Você tem hoje o maior acervo histórico e detalhado sobre a história da nossa cidade. Como você conseguiu acumular todo esse material?
R - Grande parte do material fotográfico foi extraído do arquivo histórico municipal e fotos que alguns cidadãos me disponibilizaram espontaneamente. Só que a maior parte das fotografias não tinham nenhuma identificação. A partir desse momento tive que realizar uma pesquisa muito longa junto a moradores que tinham conhecimento da história adamantinense, para esclarecer o tipo de acontecimento, o ano em que ocorreu e identificação nominal das pessoas presentes em cada imagem e assim consegui legendar todas as fotos. Foram 4 anos de trabalhos ininterruptos, mas que valeu a pena.
7) Pelas suas pesquisas, qual foi a melhor década de desenvolvimento da nossa cidade após sua fundação e até hoje?
R - O maior desenvolvimento de Adamantina foi durante a década de 50, precisamente após a chegada dos trilhos da Companhia Paulista de Estradas de Ferro em 1950 e fomos ponto final dos trilhos até 1958. Foi construído o armazém da CPEF, um dos maiores do interior de São Paulo. Por todos os cantos da cidade só surgia progresso, a construção do Grande Hotel, na época o maior da Alta Paulista, do Cine Santo Antônio com capacidade para 1.200 lugares e o mais luxuoso de toda a região, lembrando que já existia o Cine Adamantina. Inauguração da Santa Casa. Criação das escolas estaduais, inclusive muitas na zona rural. A expansão comercial que teve início próximo à antiga Rodoviária, passou a se expandir para a Avenida Rio Branco e a Rua Deputado Salles Filho. A Matriz de Santo Antônio, com sua arquitetura moderna para a época. Na década de 50 o plantel cafeeiro tinha 10.000.000 de pés de café, sendo 8.000.000 em plena produção. Isso trouxe para o município diversas máquinas de beneficiamento. O cultivo do amendoim e do algodão ocorria em grandes áreas. Várias empresas de beneficiamento de algodão aqui se instalaram. Foram instaladas duas indústrias de óleo vegetal que tinham como produto final o óleo de cozinha, que era comercializado para todo o estado, inclusive para o Mato Grosso. A zona rural muito mais povoada que a zona urbana, era constituída de famílias com muitos membros e tinha trabalho para todos durante todo o ano. A produção agrícola era tão grande que absorvia também pessoas que residiam no perímetro urbano. No comércio surgiram grandes empresas como as Casas Pernambucanas, Moreira, entre outras. Tínhamos fábrica de ladrilhos, vassoura, macarrão e bebidas. Tudo isso levou Adamantina no ano de 1955, a receber um Diploma de Honra de Maior Progresso, das mãos do então Presidente da República, Exmo. Sr. Café Filho. Apenas cinco municípios no Brasil foram condecorados. Em 1950 a Rádio Brasil de Adamantina já funcionava em caráter definitivo. No final da década aproximadamente 10 agências bancárias já exerciam aqui suas atividades.
8) Você escreveu vários livros sobre Adamantina. Qual foi a repercussão sobre a publicação de suas obras?
R - A repercussão foi maior do que esperava, comercializei 800 exemplares, os livros foram enviados para vários estados, inclusive para 8 países, onde residem ex- adamantinenses. Fui convidado para palestrar em várias escolas, tanto presencialmente como de forma virtual. É gratificante encontrar cidadãos em vários locais e estes me comunicarem que gostaram do conteúdo do livro e tiveram conhecimento de muitos fatos históricos que não conheciam. Muitos professores me confidenciam que utiliza o livro em salas de aula e muitos solicitam aos alunos que realizem trabalhos escolares referente a história de Adamantina. Tem escritores que adquiriram o livro para servir de modelo, pois eles têm intenção de também editar material histórico dos municípios onde residem. Alguns que estão realizando mestrado ou doutorado sobre o histórico regional, também fazem uso do material publicado.
A TV Fronteira de Presidente Prudente fez uma matéria específica, após uma avaliação dos assuntos abordados nos Livros editados.
9) Qual seu sentimento quando você se senta para escrever sobre Adamantina?
R - Sentimentos de prazer, felicidade, afinal, escrever sobre quem eu gosto é muito bom.
10) Como historiador, você tem informações sobre a cidade na linha do tempo. Você acha que a cidade, através dos anos, evoluiu, regrediu ou permaneceu no mesmo estágio?
R - Regrediu na agricultura, como ocorreu em todo o estado e o Brasil. Permaneceu com a mesma população, que trata de um fator positivo, considerando que os municípios vizinhos, todos regrediram no quantitativo populacional. Evoluiu na urbanização, educação, saúde, no comércio e prestação de serviços que atende a microrregião.
Adamantina tem um PIB Municipal muito forte, comparado a outros municípios maiores, a movimentação bancária é grande, a quantidade de veículos registrados é significante, temos 5 estabelecimentos de radiodifusão, 1 jornal diário e a UNIFAI, que na categoria de autarquia municipal, está entre as principais do Brasil. Temos carências, situações que precisam ser melhoradas, aperfeiçoadas e organizadas, como acontecem em muitos municípios.
11) Você sempre foi apaixonado por futebol. Do que você mais se lembra sobre o futebol de Adamantina?
R - Do inesquecível Guarani FC.
12) Todo historiador tem uma relação sentimental com os temas de suas obras. Qual é o assunto sobre Adamantina que te deixa mais emocionado quando escreve?
R - Do amor, da dedicação, da luta e da união dos componentes das Caravanas que em 1947 seguiam periodicamente a São Paulo no intuito de conseguir a tão sonhada emancipação de Adamantina. Se essa união tivesse permanecido, o município estaria num patamar melhor.
13) Adamantina tem um patrimônio cultural e histórico espetacular, mas pouco explorado e divulgado. O que você pensa sobre isso?
R - Comparo a um tesouro escondido, tem uma validade enorme, mas adormecido.
Ultimamente não tenho sido indagado pela Secretaria da Cultura, se tenho algum projeto histórico para por em prática, se me interessaria em participar de algum evento cultural. Nem fui convidado para participar da Comissão de Instalação do Museu e Arquivo Histórico de Adamantina. Em 2019, durante o mês de junho que comemora o aniversário de Adamantina, fiz uma exposição fotográfica denominada Reviver Adamantina no Paço Municipal, com 66 fotos, impressas em papel fotográfico tamanho A4. No mês de julho, realizei outra exposição sobre o futebol com 42 fotos.
Desde o ano de 2013, tenho postado matérias semanalmente na mídia adamantinense, o que continuo atualmente realizando. Em comemoração aos 72 anos de Adamantina, eu e o Néio gravamos uma entrevista histórica sobre Adamantina, em parceria com o Jornal Folha Regional-Adamantina Net montamos uma exposição fotográfica virtual, com o apoio do amigo José Roberto Rafacho, montamos um vídeo sobre a chegada da ferrovia, todos disponibilizados no youtube. Secretário PASSA, a história PERMANECE. Continuarei PERMANECENDO, pois meu compromisso é com a história adamantinense.
14) Você fez o 4º ano primário no Navarro de Andrade em 1962, professor Olavo Ribeiro. Do que você se lembra daquela época?
R - Professor Olavo Ribeiro, grande mestre. No primeiro dia de aula, tínhamos que entregar a matrícula, eu a perdi, ele olhou para mim e disse: ‘Se no primeiro dia você já me apronta essa, imagine o ano inteiro”. Se tornou meu grande amigo, me obrigando a realizar a matrícula na admissão, para poder cursar o ginásio. Durante as aulas, ele dava um exercício de matemática, e lançava o desafio: “Quem terminar primeiro e acertar eu pago um pastel no recreio”. Comi vários pastéis. Mesmo após muitos anos passados, quando nos cruzávamos na rua, ele me cumprimentava sorridente. Nos formamos em 1962 com o Professor Olavo, em Adamantina nunca tivemos a oportunidade de nos encontrarmos, mas o destino nos reservou esse reencontro no Grupo, com meu amigo Néio.
15) A Câmara Municipal de Adamantina entregou a você uma “ Moção de Aplauso” pelo seu belo trabalho como historiador da cidade. O que você sentiu ao receber esse honroso título?
R - Na verdade recebi 5 Moções de Aplauso da Câmara Municipal. A primeira foi em maio de 2015, devido as publicações na mídia denominadas Reviver Adamantina. A segunda em dezembro de 2015, quando editei a Revista Memória do Futebol Adamantinense, no mês de dezembro de 2016, após o Lançamento do Livro Reviver Adamantina, depois em julho de 2017 na apresentação do Livro Reviver Futebol Adamantinense e a 5ª aconteceu em março de 2020, solicitada à Câmara Municipal pelo Grupo “Somos Nós de Adamantina”. Me senti bem comigo mesmo ciente que existem instituições e pessoas que reconhecem o que realizei. Outro sentimento que não tem preço é a minha família também se orgulhar do meu trabalho.
16) Qual era os divertimentos em Adamantina na época de sua juventude?
R - Brincadeira dançante na casa dos amigos, ir paquerar em Lucélia nos finais de semana. Teve uma época que namorava em Junqueirópolis. Adorava rodar no dangue (chapéu mexicano) nos parques, sentava na cadeira externa e utilizava a interna para dar impulso e voar mais alto. Ir nas festas do chope. Quando saia do Ateneu a noite, “pegava” uns cocos de algumas residências para tomar a água e comer o miolo, assistir filmes de bangue-bangue e ouvir músicas da Jovem Guarda na sonata.
17) Quais foram os filmes do Cine Santo Antônio que mais ficaram na sua lembrança?
R - Filmes do Tarzan, Zorro, Jerry Lewis, Paixão de Cristo, a gente até chorava, O Dólar Furado, seriado do Capitão América, O mais longo dos dias, Lawrence da Arábia entre outros.
18) João, o povo quer saber: quando solteiro você paquerava mais ou era mais paquerado?
R - Mais paquerado, pode não parecer, mas já fui mais “arranjado”. A partir dos doze anos já tinha namoradinha. Determinada época tinha duas namoradas, quando descobriram, quase apanhei e fui muito “elogiado”.
19) Quais foram as principais alegrias que aconteceram em sua vida pessoal?
R - Conhecer a Eliane minha companheira há 48 anos, 8 de namoro. Meus dois filhos: Larissa e Carlos Eduardo. Trabalhar no IBGE, ali aprendi muito, desde dar entrevistas na mídia e palestrar em escolas, Câmaras e Prefeituras Municipais. Publicar a Revista e meus dois Livros, e meu neto Kauan, que não sai do meu pé quando está em casa.
20) Existe alguma decisão que você tomou no passado que hoje não tomaria?
R - Em 1974 era Gerente de uma empresa em Dracena, o proprietário vendo que iria falir, me sugeriu que abrisse outra empresa com novo CNPJ em meu nome. Fiquei com pena e aceitei, passados alguns meses, a empresa não emplacou, e senti o temor de ter meu nome e CPF negativado na Junta Comercial, saí da empresa e solicitei que urgentemente meu nome fosse retirado como proprietário. Passei péssimos momentos e me arrependi muito por ter aceito a sugestão.
21) Você trabalhou por várias décadas e se aposentou como funcionário do IBGE. Qual seu sentimento em relação a esse seu histórico profissional?
R - No IBGE tem que saber e ou aprender um pouco de tudo: contabilidade, gestão pessoal, economia, agricultura, etc, pois tem que realizar contatos com muitos tipos de atividades, é uma escola da vida. Como realizava muitas palestras e tinha uma afinidade com a mídia regional, sempre o trabalho era menos árduo. Quando o IBGE recebia críticas principalmente nos resultados municipais do Censo Demográfico, eu procurava o crítico e dava a ele toda a explanação necessária, procedendo assim, os resultados dos censos e minha pessoa como representante da Instituição, obtiveram mais crédito e respeito da comunidade e da mídia. O que marcou muito é que a maioria me chamava de “Joãozinho do IBGE”.
22) De todas as matérias publicadas em seus trabalhos sobre Adamantina, qual foi a que mais te deixou triste e a mais te deixou feliz?
R - Triste é quando tenho que homenagear alguém que partiu e que foi meu parceiro, me auxiliou com fotos e informações. Feliz por Deus ter me permitido publicar um Livro que apresenta fatos históricos e importantes, através de imagens e legendado, o que torna mais prático a sua interpretação.
23) Você fez um livro sobre o futebol de Adamantina e pesquisou muito para isso. Na sua opinião quais foram os melhores jogadores da nossa história?
R - Izidro Bortoletto, Tino Regiani, Bassan, Dinho, Cido, Pagão, Gil, Jonas, Ademar, Vicente e Vaí.
24) Como grande historiador já reconhecido, qual será a próxima obra sobre Adamantina?
R - Livro Reviver Adamantina II, com 349 páginas e 728 imagens, todas legendadas. Lembrando que terá aproximadamente 300 fotos extraídas do acervo do Grupo Somos de Adamantina, devidamente autorizado pelo Administrador. Encontrei várias imagens interessantes no Grupo, muitos irão se surpreender quando o Livro for lançado.
25) Você se tornou um importante participante do nosso grupo com suas postagens sobre a história da cidade. Qual sua opinião sobre nosso grupo?
R - Esse Grupo é fantástico, grande na quantidade de membros, firme para que as regras sejam obedecidas, com mensagens respeitosas, éticas, bem humoradas e eficientemente administrado. Sem dúvidas, trata-se do maior arquivo histórico adamantinense.
FIM
Agradecemos muito suas ótimas respostas e parabéns pela excelente entrevista.
Entrevista realizada por Néio Souza Bom Junior
Entrevistado: João Carlos Rodrigues