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Caderno de Enquete

O nosso entrevistado de hoje é uma pessoa muito especial, filho do conhecido e muito respeitado Dr. Maciel e da Da. Zuleika, professora querida que deu aula para muitas pessoas aqui do grupo. O Macielzinho, ou Massa, como carinhosamente os amigos mais íntimos o chamam, é hoje um profissional respeitadíssimo, com um currículo profissional e de vida admirável. Maciel é um orgulho para nossa cidade e, graças a um amigo que o socorreu aos 6 anos de idade, continua até hoje neste planetinha conosco! Vamos conhecer um pouco mais sobre os grandes feitos e travessuras desse nosso querido amigo, um cara super do bem, ético e com um ideal pra lá de bonito, José de Almeida Maciel Neto!  

01 - Maciel, qual o período em que vc morou em Adamantina? Qual sua relação com a cidade? 

Olá, Sueli. É um enorme prazer bater um papo com você e seus leitores aqui. Bom, tecnicamente nasci em Marília, em 08/10/63, porquê minha mãe queria ter o apoio dos meus avós maternos quando eu nascesse. Meus pais moravam em Pacaembu na época, na Rua Estados Unidos (olha só!), e nos mudamos para Adamantina quando eu tinha 11 meses (meu irmão e minha irmã já nasceram em Adamantina). Mas me considero um adamantinense “da gema”, com muito, muito orgulho. Vivi em Adamantina desde o começo de setembro de 1964 até o dia 26/01/80, quando tinha recém completado 16 anos e saí por um ano para fazer Intercâmbio de Jovens do Rotary Club na cidade de Plano, no estado do Texas. Aquele ano, de 1980 a 1981, quando vivi com três famílias texanas (com as quais tenho contato até hoje, diga-se de passagem) foi fundamental para mim, abrindo minha visão de mundo para bastante além do meu horizonte imediato. 

Além do apoio fundamental dos meus pais, agradeço muito nosso saudoso Dr. Joamyr Castro, muito amigo do meu pai e da família, e então responsável pelo programa de intercâmbio de jovens do Rotary Club por esta oportunidade que, para mim, foi um divisor de águas. Depois, fiz Direito em Campinas (PUCC), trabalhei em São Paulo e, mais tarde, trabalhei e fiz Mestrado em Direito Internacional (LL.M.) na American University, aqui em Washington, D.C. 

O interessante é que, apesar do tempo e da distância, minha relação com Adamantina continua a ser bastante próxima, íntima até, mesmo depois do falecimento do meu pai em 2015 e da mudança da minha mãe. Tenho vários amigos em Adamantina e adamantinenses que hoje moram em outros locais e com os quais mantenho contato eletrônico bastante regular, diário. Acompanho o noticiário online de Adamantina quase que diariamente. Inclusive, um dos meus livros de cabeceira é “Reviver Adamantina”, do historiador adamantinense João Carlos Rodrigues (fiquei contente em saber que o “Reviver Adamantina II” logo estará disponível). Não vivo do passado (muito pelo contrário!), estou muito feliz onde estou com a família, mas meus vínculos com Adamantina continuam fortes.

 

 02 - Como você era quando criança e adolescente? Sempre sonhou exercer a profissão que tem agora?

 

Eu sempre tive muito interesse sobre assuntos de história, geografia, política e relações internacionais quando criança e adolescente - na verdade, esta é uma característica minha até hoje. Em Adamantina, gostava muito de andar de bicicleta, andar de skate na rua ao lado do antigo Ipê Clube, nadar, conversar com meus amigos e amigas, sair nos fins de semana. Lembro da sorveteria Popular; do Katu; do Dom-Ki-Chopp, do Dr. Luís Fernando Guimarães; da Cantina Portuguesa, do Dr. Nelson; do Ponderosa; do Gato Negro; do lanches Kicão... Adorava ir às matinês do Cine Santo Antonio para assistir filmes do Tarzan e vários outros. 

 

Tive uma infância e adolescência excelentes e agradeço muito aos meus pais pela estrutura que eles me proporcionaram e a Adamantina pela estrutura educacional e social. Agora, para começar a responder a sua segunda questão acima, eu sempre tive muito interesse, mas muito mesmo, sobre o nosso mundão, além de Adamantina, além do Brasil. Por exemplo, além de guerra x paz, além de pobreza x riqueza, problemas religiosos e outros quetais, o que é que eu, mero eu, poderia fazer, de alguma maneira, por mais ínfima a contribuição que fosse, para melhorar a situação neste nosso mundo? Meu interesse em política e relações internacionais aflorou, mesmo, quando eu tinha oito, nove anos e gostava de assistir o noticiário, especialmente sobre assuntos internacionais. A partir desta idade, adorava conversar sobre estes assuntos internacionais com meus pais, temas que meu pai também gostava (e sabia) muito. Nesta época, surgiu uma publicação da Editora Abril, aquele ícone e enorme força atrás da cultura popular brasileira daquela época, antes da Internet, chamada “Povos & Países”. Não sei se você se lembra desta publicação, Sueli, mas, para mim, naquela tenra idade e “anos-luz” antes do surgimento da Internet, ela foi uma coisa mágica: as informações sobre cada país vinham em duas edições, uma com informações sobre um país específico, mais um disco (!) com músicas típicas daquele país, seguidas de uma outra edição na semana seguinte, com mais informações sobre aquele mesmo país, além de receitas de comidas típicas daquele país específico. Comprava as edições com meu pai e meu irmão na legendária Banca do Carlito, se não me engano toda terça ou quarta-feira. Então, tínhamos longos papos sobre estes temas em família, muitas vezes acompanhados de comidas típicas de diversos países que minha mãe preparava. Além disto, comecei a ler jornais diariamente e religiosamente no dia 06/10/73, dois dias antes do meu aniversário de dez anos. No dia 06/10/73 começou a Guerra do Yom Kippur entre Israel e países árabes, e este evento, com suas raízes históricas e profundas consequências estratégicas, me marcou muito. Naquela época, achava interessantíssimo ouvir as conversas a respeito deste assunto entre meu pai e amigos dele. 

 

Em função destes meus interesses ainda criança, sempre tive forte atração pela área de relações exteriores. Hoje em dia, meu trabalho, na área de desenvolvimento internacional, está intimamente relacionado ao meu interesse por assuntos internacionais em Adamantina e meu interesse em gerar impacto positivo, por menor que pudesse ser, no meu trabalho, principalmente em países menos desenvolvidos que o Brasil. 

 

03 - Conte-nos um pouco do seu trabalho, sua família, em que cidades morou e que projetos tem hoje.

 

Trabalho com projetos de desenvolvimento internacional, principalmente com fundos da Agência para Desenvolvimento Internacional dos EUA (USAID), que é a maior agência de desenvolvimento internacional no mundo. Além disto, também já trabalhei em outros projetos com fundos de outras agências como o DFID e FCDO (Reino Unido), SIDA (Suécia), USDOC (EUA) e Banco Mundial. 

 

Trabalho como Chefe de Projetos focados na Facilitação do Comércio e Desenvolvimento Econômico. Já trabalhei em projetos de curta e longa duração em 23 países nas Américas, África (região ao sul do Saara) e Sudeste Asiático (Filipinas). Já fiz apresentações sobre o meu trabalho e da minha equipe na Organização Mundial do Comércio (OMC) e no Centro Internacional do Comércio (ITC), em Genebra, Suíça, e também aqui em Washington, D.C. 

 

Já morei com minha família, além do nosso Brasil, na Nicarágua (Manágua), El Salvador (San Salvador), Quênia (Nairobi) e aqui, nos EUA. Moramos na cidade de Rockville, no estado de Maryland, subúrbio ao norte de Washington, D.C.. Minha família: sou casado há 33 anos com a Mandy (Amanda), ex-intercambiária do Rotary Club do estado americano de Oklahoma e que viveu em Adamantina entre agosto de 1981 e julho de 1982. A Mandy, que estudou no colégio Anglo, que ficava onde hoje, se não me engano, é o Campus I da UNIFAI, morou com duas famílias de grandes adamantinenses, o casal de Professores Antonio Jorge/Ana Corpa Jorge e família, e também com o casal Antonio Bento Motta Dias/Maria Aparecida (“Cida”) Buainain Dias e família. Temos dois filhos, Alexandre, que acabou de completar 24 anos, e está terminando o curso de Animação na universidade (o Alexandre começou a estudar biologia (Paleontologia) e mudou seus créditos depois de dois anos para a área de Animação, o que acabou retardando um pouco sua graduação) e o Lucas, de 17 anos, aluno do 3º ano do curso superior (high school). 

 

Quanto aos meus projetos atuais, eles são bastante focados na África, especialmente em relação à redução de barreiras não-tarifárias e harmonização de normas técnicas que facilitem o comércio internacional dentro da África. No meu trabalho, a gente está sempre medindo os impactos econômicos e sociais dos nossos projetos. Neste sentido, gosto muito de ouvir histórias individuais de mulheres, que são o gênero tradicionalmente mais vulnerável economicamente em todo o mundo, sobre como nossos projetos afetam positivamente as vidas delas. Por exemplo, o Quênia é o segundo maior exportador de chá no mundo. Lá, e em toda a África Oriental, as mulheres tradicionalmente fazem o trabalho nos campos e os homens trabalham nas fábricas. O problema é que esta situação promove a discriminação contra as mulheres já que as pessoas que têm possibilidade de crescer nas empresas que produzem chá são os profissionais que trabalham nas fábricas e que são, na esmagadora maioria das vezes, homens. Portanto, os homens são praticamente os únicos com condições de crescimento profissional e de ganhar mais na cadeia de valor do chá, naquela parte do mundo. Então, quando apoiei um projeto para implementar normas de Boas Práticas Agrícolas (BPAs) focadas na melhoria da produção e do comércio de produtos agrícolas, no setor do chá, achei interessante observar que não havia mulheres nos primeiros treinamentos. Uma vez, em Mombaça, no litoral do Quênia, conversei com representantes de algumas empresas sobre aquela intrigante situação. Depois de muita conversa, finalmente me disseram algo mais ou menos assim, “meu amigo, você precisa entender que nossa cultura é assim, você precisa aceitar que na nossa cultura as mulheres trabalham no campo e os homens nas fábricas”. Minha resposta foi mais ou menos assim, “meu amigo, você acredita que o verdadeiro crime contra a humanidade que foi o sistema de opressão racial do apartheid, que vigorou na África do Sul entre 1948 e 1994 era correto? Ele também refletia um aspecto da cultura daquele país naquela época... Será que aquele aspecto da cultura da África do Sul não deveria ter sido modificado, como foi?” Não recebi resposta, só silêncio, mas acho que entenderam meu ponto. Depois, não sei se por causa desta conversa ou pelo fato que eu disse que nós teríamos que cortar os fundos para este projeto se não houvesse mais mulheres nos próximos treinamentos, como que “por milagre”, começamos a ver mulheres recebendo capacitação profissional... Não só isto, nos próximos anos, pudemos monitorar o crescimento profissional daquelas mesmas mulheres envolvidas nesse projeto que apoiamos, crescendo profissionalmente naquelas empresas. Este tipo de impacto humano positivo me deixa feliz, muito feliz. Meu papel e da minha equipe, às vezes, é o de desafiar, de maneira construtiva, o status-quo em alguns países e apresentar novas soluções para enfrentar desafios locais que não só respeitem mas que também promovam, por exemplo, a igualdade de gêneros e racial, a transparência, o meio-ambiente e a democracia.

 

04 - Na sua vida, o que vc considera ser a sua maior descoberta?

 

Nossa, Sueli, você vai puxar um fio filosófico aqui. Ainda me considero um trabalho muito em fase de acabamento e confesso que não tinha pensado muito sobre o tema. Mas, para responder sua pergunta, minha maior descoberta na vida, até o presente momento, é um pacote que inclui três pontos e que acredito serem muito importantes: Simplicidade, Amor e Sustentabilidade. Coloco assim mesmo, nesta ordem, não porque a simplicidade seja maior que o amor (porque, na verdade, é ao contrário), mas sim porque acredito que a simplicidade é muito importante para que a gente possa ser capaz de enxergar o amor. Amor porque se nós fizermos qualquer coisa na nossa vida familiar, social ou profissional, sem carinho, respeito, gentileza, cuidado, doação, afeição, atenção e paixão, nada disso vai ser sustentável. Sustentabilidade porque acredito que tudo o que nós fizermos deve ser pensado de maneira a incorporar aquela característica importantíssima para qualquer obra de maior relevância: a capacidade de perdurar no tempo e no espaço. 

 

05 - Quais são seus heróis de infância? E da vida adulta?

 

Depois da minha fase de Batman e Super-Homem, aprendi que meus heróis são bastante parecidos comigo, têm carne e osso, qualidades e defeitos. Sei que é bastante chavão dizer isto, mas meu herói, mesmo, sempre foi meu pai, com todo o apoio da minha mãe. Meu pai sempre foi meu herói porque ele fez das tripas coração para oferecer oportunidades aos seus filhos que ele mesmo não teve. Como se isto não fosse suficiente, meu pai possuía aquele dom especialíssimo, o de curar e não deixar adoecer milhares de crianças. Sempre digo que se puder oferecer aos meus filhos 50% das oportunidades que meu pai ofereceu a mim e meus irmãos, vou me sentir bastante realizado como pai. Além dele, meus heróis atuais, em todo o mundo, são aqueles que promovem e respeitam temas que considero muito importantes, como, por exemplo, a democracia, a transparência, a harmonia entre povos diferentes, a harmonia entre seus próprios povos, a igualdade de gêneros e o meio ambiente. Claro, sem falar também naqueles heróis que promovem e respeitam a gentileza e o respeito pelas diferenças, temas tão em falta neste nosso mundo, em todas as esferas da nossa vida. São estes os meus heróis.

 

06 - Qual a experiência mais incrível que vc já teve na vida?

 

Minhas experiências mais incríveis envolvem meu gosto por viajar, conhecer novas culturas, novas maneiras de ver e entender o mundo e tentar melhorá-lo. Tive um ano, quando a gente morava na África Oriental, em que fiz 40 viagens a trabalho em 12 meses, a maior parte regional (por sorte, Nairobi fica a um raio de 1 hora ou 1:30 hora de voo de outras capitais e cidades importantes da região como Dar es-Salaam (significa “Casa da Paz”, em árabe), Kampala, Mombaça, Bujumbura, Kigali, etc). Agora, se você me perguntar qual a viagem mais incrível de todas as que eu já fiz, minha resposta, sem sombra de dúvidas, foi quando virei papai dos meus dois filhos. Eu vejo isto como uma “viagem” sim, porque a paternidade me ofereceu duas experiências únicas de conhecer duas novas personalidades (culturas) diferentes, focando em duas pessoas muitíssimo especiais para mim.

 

07 - Cite três defeitos e três qualidades em você.

 

- Defeitos: olha só, também vejo isto como um pacote que envolve minha vontade de fazer o certo, especialmente em situações novas, e a ansiedade que isto às vezes me ocasiona. Apesar de ser um cara bastante tranquilo e centrado, por diversas razões, tenho tratado a leve ansiedade que às vezes me aflige nestes tempos pandêmicos através de um hábito positivo, físico e que adquiri durante esta pandemia: caminhando. Acho que ainda vão chamar isto de “A Síndrome de Forrest Gump”... (hahaha). Caminho muito, sempre que possível, porquê sei que é um hábito saudável e que me faz sentir bem. Faço uma hora (5 km) por dia de caminhada nos finais de todos os dias de semana, outras 3 a 4 horas aos sábados (15 a 20 km) e outras 3 a 4 horas aos domingos (outros 15 a 20 km). Ou seja, isto tem dado uns 55 a 65 km por semana durante estes últimos dois anos, mais ou menos. 

 

Ah sim, frequentemente aproveito minhas caminhadas para também tirar fotos de imagens bonitas, engraçadas ou interessantes que vejo pelo caminho (natureza, história etc.). Brinco com a Mandy dizendo que estou me preparando para a “Maratona Internacional da 3ª Idade” daqui alguns anos e que espero representar Adamantina na competição! Outro defeito meu é, às vezes, aceitar fazer demasiadas atividades ao mesmo tempo (se bem que, às vezes, a gente não tem opção quanto a isto) e uma ou outra coisa ficar atrasada. Mas estou trabalhando para priorizar melhor as atividades que fazem parte da minha vida porque procrastinar não faz bem a ninguém.

 

- Qualidades: interesse em aprender, interesse na família e amigos, trabalhar com e chefiar equipes (bastante) multiculturais, interesse por culturas/línguas diferentes, incluindo adaptando maneiras diferentes de ser e trabalhar. Por exemplo, no meu trabalho e na minha vida, tento integrar dois aspectos marcantes das culturas dos povos dos dois grandes países a que pertenço e faço parte, com muito orgulho: a criatividade e a inovação do brasileiro e a objetividade e o profissionalismo do americano.

 

08 - Qual foi a última vez que vc subiu em uma árvore? 

 

Faz tempo, acho que uns 15 anos, mais ou menos, na fazenda dos meus sogros, em Cleveland, que fica perto de Tulsa, Oklahoma. Subi numa árvore com meu filho Alexandre, que sempre gostou muito de subir em árvores. Ele, inclusive, já deu vários sustos na gente com este assunto. Por exemplo, quando subiu em uma árvore bastante alta, de uns 25 metros (!) no Quênia...

 

09 - Quais eram suas brincadeiras preferidas quando criança? 

 

Gostava muito de andar de bicicleta, brincar de “feda” na piscina do Ipê Clube, conversar com meus amigos, ouvir as conversas dos meus pais e amigos deles (aprendi muito com isto), jogar bola na rua, jogar jogos de estratégia, como “War”, “Diplomacia”, “MX-1” e “Guerra do Yom Kippur”, principalmente com meu irmão e vários amigos e amigas. Por sorte, não havia joguinhos eletrônicos na nossa época. Digo isto por causa dos vários problemas que os joguinhos eletrônicos causam hoje em dia em relação à (falta de) sociabilidade e à (falta de) atividades físicas destas gerações mais novas. Mas este é outro papo.

 

10 - E seu maior sonho?

 

Tenho vários. Um grande sonho meu é o de poder conciliar meu trabalho e o tempo para poder viajar ao Brasil e visitar a família e amigos. E sempre que possível, é claro, dar um pulo em Adamantina. Mas, sem falar em temas de família, meus sonhos também incluem trabalhar em países onde ainda não trabalhei como, por exemplo, projetos de desenvolvimento no Sudeste Asiático, Oriente Médio (especialmente Jordânia), Europa Oriental ou Ásia Central. Apesar de gostar muito de estar em casa, aqui nos EUA, gosto de desafios novos em lugares por mim ainda “não navegados”. Como gosto de trabalhar pelos meus sonhos, veremos o que o futuro dirá a respeito.

 

11 - Como você gostaria de ser lembrado?

 

Como disse antes, Sueli, me considero um trabalho ainda muito em processo de elaboração e é bem provável que meus comentários aqui, sobre posteridade, sofram alguns acréscimos no futuro. Este é um assunto interessante até porquê qualquer criança dando seus primeiros passos (antes até) já está deixando suas pegadas para a posteridade. De qualquer maneira, gostaria de ser lembrado em Adamantina como o filho mais velho do Dr. Maciel, médico pediatra de milhares de crianças em Adamantina e na Nova Alta Paulista, e da Da. Zuleika, professora aposentada de latim, francês, inglês e português, irmão do Clovis, médico neurocirurgião em Sete Lagoas, M.G., e da Talitha, Analista Judiciário do Tribunal Regional do Trabalho em São Paulo. Também gostaria de ser lembrado como alguém que saiu da terra sagrada de Adamantina para “desbravar” outras terras e tentar gerar um impacto positivo nas vidas de outras pessoas, senão na sua terra natal (quem sabe?), pelo menos em outras terras mais longínquas. 

 

Acredito que as nossas pegadas neste curtíssimo espaço de tempo que temos nesta nossa Terra devem ser sempre marcantes: suficientemente profundas para serem lembradas e suficientemente leves para serem perceptíveis na sua suavidade. Acho que é por aí.

 

12 - Tem algo que você gostaria de experimentar ou viver e até hoje não conseguiu?

 

Adoraria viajar até a estratosfera na espaçonave da SpaceX do Elon Musk, mas só se a viagem for grátis... Brincadeira, Sueli (mas não deixa de ser uma boa idéia!). Estou sempre disponível e disposto a encarar novas experiências ou vivências que sejam positivas e que não façam mal nem a mim nem àqueles que eu amo. Adoro conhecer culturas diferentes, línguas, entender como determinados valores e princípios são valorizados de maneiras diferentes por diferentes culturas, músicas e comidas exóticas. 

 

13 - Se você pudesse se manter na mesma idade pra sempre, qual seria?

 

Acredito que todas as idades têm suas maravilhas e seus desafios. Não sou uma pessoa que vive de nostalgia, daquelas que vivem com saudades de um passado idealizado e que frequentemente nunca existiu, apesar de me lembrar muito, sempre e com muito prazer, da minha família, dos meus amigos e das minhas raízes. 

 

Estou bem onde estou, neste momento, no tempo e no espaço. Para mim, agora, 58 é o novo 16. Mas se você me perguntar qual idade foi a mais importante em toda minha vida, diria que foi, sem dúvida, meus 16 anos. Nesta idade, expandi muito minha visão de mundo, aprendi a conviver e respeitar visões de mundo diferentes da minha (e também a manter e defender meus pontos de vista), conheci uma cultura então diferente da minha e aprendi uma nova língua que hoje é parte integral do meu cotidiano. Isto tudo me ajudou a conhecer a Mandy, minha parceira de 33 anos, e a construir uma vida para a nossa família não só aqui em casa, nos EUA, mas também em vários outros locais do mundo. Aliás, aproveito para fazer propaganda do espetacular programa de Intercâmbio de Jovens do Rotary Club, que foi o programa do qual eu e a Mandy participamos. É claro que também existem vários outros excelentes programas de intercâmbio, como o “American Field Service” (AFS), o qual, inclusive, oferece bolsas de estudo para jovens que se qualifiquem. Faço esta sugestão para quem tem filhos e filhas começando a adolescência e que queiram oferecer uma oportunidade única para que eles aumentem seus horizontes no mundo, fiquem mais tolerantes, conheçam novas culturas, aprendam uma nova língua e, em última instância, melhorem inclusive como seres humanos. Sugiro ainda que os interessados façam uma busca na internet sobre o tema e estas organizações, caso queiram mais informações.

 

14 - Qual sua maior travessura?

Ah, Sueli, tive uma infância bastante ativa em Adamantina e isto incluiu várias e frequentes visitas à Santa Casa. Não, não falo em visitar meu pai, que deu muitos e muitos e muitos plantões lá, mas como paciente mesmo, para tomar pontos várias vezes e engessar um braço (braço esquerdo) ou um pé (pé direito). 

 

Lembrei agora de uma ocasião, num domingo em abril de 1970, quando tinha acabado de começar o (antigo) 1º ano primário no atual “Helen Keller”, na turma da Profa.Edelmira (“Lila”) Brizighello de Sá, nossa querida Dona Lila. Na manhã daquele inesquecível, quase fatídico e quente domingo, minha mãe levaria eu, com 6 anos, meu irmão Clovis, então com 4 anos, e meu amigo, vizinho de casa e colega de classe Ricardo Sigahi, com 7 anos na época, à piscina (na verdade, piscininha, pela nossa idade) do ATC. Levantei mais cedo que todo mundo em casa, coloquei minha sunga, e dei um pulo na casa do meu amigo e vizinho Sigahi - fui descalço e sem camiseta. Enquanto o Ricardo estava se preparando para ir ao clube, esperei por ele na parte de fora da casa dele. Ao redor da casa dele havia uma grade baixa, pintada de branco, com pontas em formato de lança, e que continha um  pequeno degrau, exatamente na altura para que uma criança de 6 anos pudesse subir neste degrau e encostar as costas contra a grade com pontas em formato de lança. Fiquei então de frente para a rua e de costas para a casa do Sigahi. Fiquei ali por alguns minutos (segundos talvez?) quando, por alguma razão escorreguei e quando dei por mim, estranhamente não sentia absolutamente nenhuma dor, mas vi que estava com meus dois pés no ar, não conseguia me mexer e tive uma sensação súbita de um gigantesco mal-estar. Por sorte, coincidiu do irmão mais velho do Sigahi, Reinaldo, estar passando por lá exatamente naquele momento quando me viu de costas e espetado na grade com pontas em formato de lança, com uma delas enterrada no lado direito das minhas costas, sangrando. O Reinaldo teve o bom senso de vir em silêncio até mim (muito obrigado e um abraço para você, Reinaldo, caso esteja lendo este texto, por ter salvado minha vida!) e me retirou da grade. No exato momento que o Reinaldo me retirou da grade, como você pode imaginar, aprendi, na prática, o significado literal do termo “dor lancinante”. Claro que corri para casa e lembro até hoje da expressão na cara dos meus pais, sendo acordados aos gritos naquela caliente e preguiçosa manhã de fim de semana e se deparando com aquela situação (acho que nem preciso descrever a cena, né?). Obviamente meu pai acalmou a situação, me prestou os primeiros socorros e lá fomos nós novamente para onde, adivinhe?, ... nossa Santíssima Casa de Misericórdia de Adamantina! Depois, meu pai me disse que o ferimento, por sorte, não perfurou meu pulmão direito. 

 

Enfim, depois de quase embarcar desta para uma melhor, posso dizer que esta experiência me marcou profundamente (!), mas pelo menos me ofereceu uma história acredito que interessante para compartilhar com você e seus leitores neste exato momento, pouco mais de 50 anos após o fato. Ah sim, a grade foi trocada logo depois. Que esta história também sirva como alerta para todos os envolvidos em situações parecidas.

 

15 - Qual o sentimento que representa o que vc sente por Adamantina? Deixe uma mensagem para os adamantinenses e pessoas do grupo. 

Adamantina, para mim, é sinônimo de amizades para toda a vida, segurança, infância saudável e boa educação. Sempre agradeci meus pais por terem escolhido Adamantina como a cidade da infância minha, do meu irmão e da minha irmã. Não trocaria minha infância em Adamantina por nenhum outro local, em lugar nenhum do mundo. Pretendo dar um pulo em Adamantina depois que esta terrível pandemia terminar e o trabalho permitir. Daqui de Washington, D.C., vocês têm um adamantinense que torce pela felicidade e pelo contínuo progresso da nossa querida Cidade Jóia. Aproveito para mandar um forte e grande abraço a você, Sueli, e a todos e a cada um dos leitores que aqui muito me honram com sua atenção. Muito obrigado.

Entrevista realizada por Sueli Yamauti

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